No duche, no carro ou quando não estamos a fazer absolutamente nada. Há certas músicas que “invadem” a nossa cabeça quando menos esperamos e teimam em perseguir-nos por muito tempo. O fenómeno é bastante comum, aliás, 90% das pessoas fica com uma canção presa na cabeça, pelo menos, uma vez por semana, concluiu um estudo publicado na revista Psychology of Aesthetics, Creativity and the Arts.
Acontece habitualmente quando o cérebro não se está a esforçar muito – quando estamos a tomar banho ou fazer tarefas domésticas, por exemplo -, e “a culpa” é das próprias características das músicas. Foi esta a conclusão apurada pela equipa de investigadores da Universidade de Durham, no Reino Unido, liderada por Jakubowski Kelly, após verificar que existem traços comuns entre os temas que nos ficam no ouvido.
Entre 2010 e 2013, a equipa de Kelly pediu a 3 mil pessoas que identificassem earworms, ou “minhocas dos ouvidos”, em português – termo utilizado para descrever músicas que se prendem na nossa cabeça-, com base nos temas populares no Reino Unido, à época, e compararam-nas com as canções que não se tornaram virais. Os resultados demonstraram que as músicas assinaladas apresentam um ritmo rápido, notas repetidas e uma melodia fácil de memorizar.
Estas características estão presentes em músicas para crianças, como a famosa ‘Twinkle Twinkle Little Star’ ou ‘Baby Shark’, mas também nos grandes hits de música pop. Entre as canções mais memoráveis assinaladas pelos inquiridos, as músicas da artista Lady Gaga ‘Bad Romance’ (2009), ‘Alejandro’ (2009) e ‘Poker Face’ (2008) estão entre as mais citadas, mas da lista fazem também parte clássicos como ‘Don’t Stop Believin’ (1981) da banda Journey e ‘Bohemian Rhapsody’ (1975) dos Queen.
“A pesquisa demonstra que certas características de uma música podem definir a probabilidade de se tornar um sucesso e ficar presa na nossa cabeça”, lê-se no estudo. Para a investigadora Jakubowski Kelly, as conclusões “podem ser do interesse dos produtores musicais, compositores e publicitários”, uma vez que oferecem ideias de como podem produzir melodias “de que todos se lembrem durante dias ou meses”, como menciona no estudo.
Por outro lado, se já se desconfiava que as músicas transmitidas na rádio têm mais tendência a colar-se ao nosso cérebro, a investigação vem prová-lo cientificamente, confirmando que “a exposição frequente a uma música nos torna mais suscetíveis a ficarmos com ela na cabeça”.
Os investigadores explicam ainda que não existe uma fórmula secreta para expulsar hits da nossa cabeça, mas sugerem três passos que podem funcionar. Primeiro, oiça a música até ao fim. Os especialistas acreditam que não tentar combater a música é uma forma desta desaparecer facilmente da sua memória. Se não resultar, experimente ouvir outra diferente, de preferência uma de que goste. Por fim, pode mastigar uma pastilha. Um estudo do The Journal of Experimental Psychology demonstrou que quando as pessoas mastigam pastilha logo após ouvirem música têm tendência a ser menos atormentadas por earworms.